Com expertise em projetos voltados para leitores improváveis, o Observatório do Livro e da Leitura, com sede em Ribeirão Preto (SP) e atuação internacional, trabalha há 24 anos com uma proposta concreta para transformar realidades através dos livros. Em dezembro último, recebeu o Prêmio de Melhor ONG de Cultura do País
Às vésperas de completar 25 anos de existência, o Observatório do Livro tem cumprido, através de seus vários projetos e programas, o objetivo de desenvolver ações para estimular a leitura e ampliar noções de cidadania entre os recortes da população, de crianças e adolescentes periféricos a pessoas idosas e privadas de liberdade. Mais do que isso, a instituição, que se notabilizou pelos diversos prêmios recebidos, busca oferecer aos seus beneficiários ferramentas que ampliem a sua concepção pessoal e coletiva de mundo.
O Observatório inovou, por exemplo, ao oferecer clubes de leitura virtuais durante a pandemia Coronavírus para a população acima de 60 anos. Isso contribuiu para aumentar ainda mais o impacto de inclusão digital nessa faixa etária do projeto original, que já era inovador, ao prever a leitura de eBooks em tablets a partir de uma biblioteca virtual com 50.000 títulos.
O projeto, que leva o apropriado nome de “Clube de Leitura 6.0”, já atendeu 3.525 pessoas idosas com idade entre 60 e 102 anos. Contrariando as pesquisas de leitura no País, os leitores idosos do projeto leem, em média, 12 livros ao ano, duas vezes e meia a média nacional de 4,9 livros/ano, segundo a pesquisa Retratos da Leitura (Instituto PróLivro/Itaú Cultural, 2020). Após a pandemia, a maioria dos clubes é presencial e acontece em cafeterias, livrarias, bibliotecas, outros espaços de convivência e em Instituições de Longa Permanência (ILPI).
Também para a população 60+ são oferecidos outros três projetos. O “Retomada” requalifica, profissionalmente, pessoas idosas e incentiva seu reingresso e/ou a permanência no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que propõe novas perspectivas de vida e potenciais fontes de renda. A ação, já em sua segunda edição e com 35 participantes, propicia formação teórica e prática em Biblioterapia e Mediação de Leitura e estimula o voluntariado.
Outro projeto, “Tomates Verdes Fritos”, é voltado para pessoas idosas em tratamento contra o câncer e doenças neurodegenerativas, com apoio de biblioterapeutas que também têm formação em Psicologia. São 576 pacientes atendidos em Ribeirão Preto em grupo ou individualmente, com uma média de 40,8 livros lidos ao ano.
Segundo o idealizador dos projetos, Galeno Amorim, que é presidente do Observatório e já dirigiu a Biblioteca Nacional, é importante ocupar o tempo livre das pessoas idosas enfermas com a leitura de livros literários, criando momentos de acolhimento, prazer, entretenimento e, ao mesmo tempo, escuta empática e reflexão.
O projeto atende, por exemplo, grupos de mulheres mastectomizadas e pacientes do SUS durante as sessões de hemodiálise. Já os atendimentos individuais acontecem em domicílio ou em consultório. Também são atendidos, em um grupo à parte, os cuidadores dos pacientes, com o uso da leitura como suporte emocional.
Diante do aumento do número de pessoas idosas em situação de rua, o Observatório criou o projeto “Clube de Leitura nas Ruas” que acontece na instituição de acolhida temporária Casa Santa Dulce dos Pobres, e Ribeirão Preto. Cada sessão chega a reunir de 25 a 30 pessoas com 60 anos ou mais. A mediação é realizada por psicólogo e biblioterapeuta. Para Luciana Paschoalin, diretora de Operações da instituição, o objetivo é propiciar o acesso à leitura visando promover acolhimento, autoconhecimento, autonomia e inclusão social.
“A gente atua no sentido de fornecer ferramentas para que possam lidar de formas mais saudáveis e compassivas com os níveis de estresse, ansiedade, angústia, insegurança, medo e as sensações de solidão e desamparo”, observa Luciana.
Outro projeto é o “Clube de Leitura 2.0”, no qual os beneficiários são adolescentes periféricos de 12 a 17 anos. Eles têm acesso a uma biblioteca virtual de 5.000 livros e leem em tablets e computadores. São 40 clubes em 10 cidades do Estado de São Paulo, com encontros semanais para as leituras e as sessões de Biblioterapia para falar sobre a obra lida e da própria vida. Nos 28 clubes da Fundação CASA, os encontros são virtuais e eles leem, em média, sete livros por ano.
Há também o “Clube de Leitura no Cárcere”, que já impactou cerca de 10 mil pessoas presas e acontece desde 2009. Atualmente, é realizado em cinco presídios da região de Ribeirão Preto, com 100 membros nos clubes. O projeto tem a parceria da Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap) e a cada livro lido a pena é reduzida em 4 dias, até 48 dias por ano.
Lives com escritores e especialistas em leitura – São realizados inúmeros eventos virtuais, gratuitos, durante o ano para professores, bibliotecários e outros formadores de leitura, com a presença de renomados autores e especialistas. A 4ª Jornada da Leitura no Cárcere (realizada no final de novembro de 2023), por exemplo, atingiu 29.745 pessoas, a maior parte privadas de liberdade em penitenciárias em 15 estados, foi feita em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
O evento mais recente foi a 4ª.Jornada da Leitura 6.0, em fevereiro último, que com o tema “Histórias e sonhos não envelhecem”, atraiu 4590 pessoas, durante três dias, para ouvir escritores, especialistas e artistas sobre o papel dos livros, da literatura e da escrita para uma velhice mais ativa e inclusiva. Além disso, contabilizou 2986 comentários do público.