Com expertise em projetos voltados para leitores improváveis, a instituição, com sede em Ribeirão Preto (SP) e atuação internacional, trabalha há 25 anos com uma proposta concreta para transformar realidades através dos livros. Em 2023, o Observatório recebeu o Prêmio de Melhor ONG de Cultura do País e integrou a lista das 100 melhores ONGs
Ao completar 25 anos de existência, o Observatório do Livro tem cumprido, através de seus vários projetos e programas, o objetivo de desenvolver ações para estimular a leitura e ampliar noções de cidadania entre os recortes da população, de crianças e adolescentes periféricos a pessoas idosas e privadas de liberdade. Mais do que isso, a instituição, que se notabilizou pelos diversos prêmios recebidos, busca oferecer aos seus beneficiários ferramentas que ampliem a sua concepção pessoal e coletiva de mundo.
O Observatório inovou, por exemplo, ao oferecer clubes de leitura virtuais durante a pandemia Coronavírus para a população acima de 60 anos. Isso contribuiu para aumentar ainda mais o impacto de inclusão digital nessa faixa etária do projeto original, que já era inovador, ao prever a leitura de eBooks em tablets a partir de uma biblioteca virtual com 30.000 títulos.
O projeto, que leva o apropriado nome de “Clube de Leitura 6.0”, já atendeu 4.294 pessoas idosas com idade entre 60 e 102 anos. Contrariando as pesquisas de leitura no País, os leitores idosos do projeto leram, em 2024, 8.852 livros lidos inteiros ou em partes, atingindo a média de 32 livros por participantes ao ano, o que resulta em 2,6 livros ao mês. É muito importante destacar que segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada no final do ano passado, a média nacional por pessoa é de 3,96 títulos/ano.
Também para a população 60+ são oferecidos outros dois projetos. O projeto “Retomada” requalifica, profissionalmente, pessoas idosas e incentiva seu reingresso e/ou a permanência no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que propõe novas perspectivas de vida e potenciais fontes de renda. A ação, já em sua segunda edição e com 35 participantes, propicia formação teórica e prática em Biblioterapia e Mediação de Leitura e estimula o voluntariado.
O outro projeto, “Tomates verdes fritos”, é voltado para pessoas idosas em tratamento de câncer e doenças neurodegenerativas, com apoio de biblioterapeutas que também têm formação em Psicologia. São 656 pacientes atendidos em Ribeirão Preto em grupo ou individualmente, com uma média de 40,8 livros lidos ao ano.
Segundo o idealizador dos projetos, Galeno Amorim, que é presidente do Observatório e já dirigiu a Biblioteca Nacional, é importante ocupar o tempo livre das pessoas idosas enfermas com a leitura de livros literários, criando momentos de acolhimento, prazer, entretenimento e, ao mesmo tempo, escuta empática e reflexão.
O projeto atende, por exemplo, grupos de mulheres mastectomizadas e pacientes do SUS durante as sessões de hemodiálise. Já os atendimentos individuais acontecem em domicílio ou em consultório. Também são atendidos, em um grupo à parte, os cuidadores dos pacientes, com o uso da leitura como suporte emocional.
Outro projeto é o “Clube de Leitura 2.0”, no qual os beneficiários são adolescentes periféricos de 12 a 17 anos. Desde 2022, o projeto já implantou 81 clubes de leitura, em 17 cidades do Estado de São Paulo, beneficiando 1.882 adolescentes, e ultrapassou a marca de 13.369 livros lidos inteiros ou em partes. São encontros semanais para as leituras e as sessões de Biblioterapia para falar sobre a obra lida e da própria vida. Nas 28 unidades da Fundação Casa atendidas, os encontros são virtuais e os adolescentes atendidos em medidas socioeducativas leem, em média, sete livros por ano.
Há também o “Clube de Leitura no Cárcere”, que já impactou cerca de 10 mil pessoas presas e acontece desde 2009. Atualmente, é realizado em seis presídios da região de Ribeirão Preto, com 121 membros nos clubes. O projeto tem a parceria da Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap) e a cada livro lido a pena é reduzida em 4 dias, até 48 dias por ano. Neste ano, o Observatório criou o projeto inédito para leitores não alfabetizados.
Internacionalização das atividades - O Observatório chegou ao seu ano 25 com o início da internacionalização de suas atividades. A partir de discussões no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde a instituição ocupa uma cadeira como Observador Consultivo, a atuação se dará em países da África e da Ásia com apoio às políticas públicas do livro e leitura. O Coninler (Congresso Internacional de Leitura) reuniu, no ano passado, na sua 7ª edição, 28 escritores, especialistas e artistas dos países dessa região.